As fotos desta página de internet mostram o quanto uma imagem é uma coisa estranha. Ao olhá-las, estamos vendo algo que não vimos: um pedaço do mundo que já passou, captado por um instrumento, e que, de uma forma misteriosa, se forma novamente na nossa frente.
Agora, ao observarmos as imagens produzidas por este instrumento, cada uma delas nos oferece uma reprodução daquele instante; uma cópia daquele pedaço de mundo. O que vemos, portanto, funciona como se fosse uma espécie de espelho anacrônico. Mas não só isso: também se oferece a nós como um documento irrefutável do que aconteceu, quer dizer: conta-nos uma história. Ou seja, trata-se, em conjunto, de uma autentificação daquilo que foi, como diria o estudioso da imagem Roland Barthes.
Entender o que faz uma imagem
Ao ser a reprodução daquilo que não pode ser visto ao vivo, a imagem adquiriu importância ímpar na vida da sociedade, como revela sua própria história (leia-se o texto da oficina de fotografia – orfanotrófio, neste blógue). No entanto, a atual proliferação de imagens a alçou a um grau de autoridade antes impensado. Isto é: as coisas parecem só passar a existir de verdade através da sua imagem – uma inversão, como já dizia o filósofo brasileiro Vilém Flusser.
O fato é que não há casa na qual não esteja um televisor ligado. Não há jornal impresso que não se venda pelas grandes fotos em todas as páginas. Não há filme que não pareça absolutamente verossímil. Em todos estes veículos de comunicação de massa, o que não há como negar é um ‘modelo’ – justamente através da força que a imagem toma – emanado à sociedade que a consome.
Como entender o que faz uma imagem
Portanto, parece ser através das imagens que aprendemos a nos comportar e a viver de determinado modo. O poder das imagens se torna tão forte, que é como se fosse a primeira socialização a qual temos contato, como mencionam os sociólogos Berger e Luckman. Isto é, passa a ser através das imagens que aprendemos a ser os seres humanos que nos tornamos.
A oficina de fotografia que acontece na Vila dos Pescadores, por isso, propôs tratar deste tema. Com a idéia de que “não somos uma imagem: a fazemos”, a proposta seria discutir este poder das imagens e tentar produzi-las de outro modo, mais autônomo. Inicialmente planejada para um público de jovens e adultos, a discussão precisou ser rearranjada para crianças. O atual resultado é um entendimento lento e repetido de que, com uma foto, fazemos três coisas:
- recortamos um pedaço do mundo,
- contamos uma história a partir dele e
- uma história que está dentro dos limites do quadro que é uma foto, ou seja, o ‘enquadramento’ daquele recorte de mundo.
Produção de fotografias a partir do entendimento do que faz uma imagem
Atualmente, depois de uma série de encontros em que novos oficinandos aparecem a cada aula e outros deixam de vir, e da realização de diversos exercícios de observação de imagens, algumas idéias das três recém citadas vão sendo entendidas.
Assim, está sendo possível planejar uma saída de campo para produzirmos imagens da própria Vila dos Pescadores. A proposta de que os próprios oficinandos façam as imagens deles mesmos (de seu lugar, e de seu tempo) passa a se concretizar. O trabalho, neste sentido, se junta ao da oficina de literatura, da professora Letícia Wolf, que pretende fundamentalmente construir um painel da identidade da Vila.
Veremos que na realidade as imagens produzidas pelos próprios protagonistas delas será construída.
André Dornelles Pares, agosto de 2011.
Um comentário:
oi, eu sei que esse assunto não se refere a postagem, mas não soube onde comentar. eu fui ate a oficina do CAPS/HC na ramiro barcelos, porém no site não dizia que era uma oficina pra adultos e pacientes do caps...entao poderiam me indicar outro lugar que seja de preferencia a tarde e perto da avenida cristovão colombo? obrigada
Postar um comentário