Esta aula teve como principal objetivo ampliar a percepção corporal e desenvolver a capacidade de concentração. Através deste trabalho mais uma vez pude constatar a dificuldade das pessoas para concentrarem-se no próprio corpo, e como podemos ver nas fotos abaixo, desde uma idade precoce.
Comparo este fato com uma "fuga", fuga do encontro com si mesmo. Ao tocar os corpos, percebi a tensão que acompanha a grande maioria, uma espécie de medo da entrega, da soltura, do conforto, do carinho e do amor. Há resistência ao "toque" corporal, ou seja, ao sentir verdadeiramente, percebendo os detalhes, já o "contato" físico acontece seguidamente e muitas vezes com uma conotação agressiva. Constato que nossa "cultura" é por demais repressora, entendemos que ao assumirmos a posição ortostática, assumimos personalidades que subdividem o "eu", fragmentando-o, e como consequência fantasiamos ser super-humanos, logo, imortais.
Estar ao solo, totalmente entregue à ele, comumente há resistência por parte dos alunos e alunas, pois remete aos sentimentos que muitas vezes tornaram-se inconscientes e que indicam o quanto também somos sensíveis e mortais. Ao observar a atividade ser realizada, pude verificar gestos, tensões musculares e vocalizes que naturalmente vinham à tona, os quais me pareciam indicar timidez e querer dizer: tenho que disfarçar, fingir que não estou gostando de receber o toque, tenho que conter meus sentimentos... Mas ao mesmo tempo no decorrer, foi havendo um silêncio, uma paz, olhos começaram a se fechar acompanhando o deleite do corpo ao chão e com isto uma certa confiança teve início a ser gerada, indicando que novos princípios estão próximos, basta estarmos sempre atentos, "percebendo" cada instante da vida, fazendo desta uma eterna dança.
Marilice Bastos -oficineira de Dança Contemporânea
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